terça-feira, 9 de outubro de 2012

Tarde Demais

Ele sempre a achou muito perfeitinha. Tirava as melhores notas, encantava a todos ao seu redor. Sentia ciúme. Aquela atenção devia ser dele, Hikaru, e não daquela...
O menino de sete anos segurou a raiva ao vê-la conversando com um de seus amigos, tão animada.
Quando ele comentava que não gostava daquela menina, os outros se afastavam. E o que ela tinha de especial, além de ser perfeitinha? Pele morena, olhos castanhos, e um cabelo preto comprido, com cachos muito largos. Era ridícula.
Não era justo.
Não era.
Hikaru era um japonês típico, não uma estrangeira. Seus olhos e cabelos negros contrastava com a pele oriental, em vez de complementar. Ele não devia ser mais inteligente que ela?
- Oi, seu nome é Hikaru, né? O meu é Mitsuko, prazer em conhecê-lo.
O garoto virou o rosto, contrariado. Ela tinha que tentar aquilo com ele também? Logo ele, que a detestava? Mas a menina pareceu não ter percebido a grosseria, o que era estranho, pois estava mais que na cara que Hikaru a odiava. Será que o defeito dela era ser tapada?
- Posso me sentar aqui?
Ele pensou em não responder, mas lembrou-se que "Quem cala, consente". Infelizmente, o ditado estava certo, e ela se sentou ao seu lado.
- Você gosta de sentar aqui, né? Sempre te vejo nesse banquinho. - Ela tentou puxar conversa. Porém, o menino ainda tinha cismado que ela era chata, e não respondeu. Entretanto, ela continuava sorrindo, comentando, balançando as pernas curtas.
Isso durou anos. Ela, sempre ao lado dele, cuidando com carinho, e ele sem responder, mas também sem recusar, sabia que isso a magoaria e a deixaria mais chata.
Mas a adolescência chegou, e com ela, seus hormônios. Percebeu que ela tinha um rosto lindo, um corpo delicadinho, e que seu sorriso era muito brilhante. Apesar disso, continuava tentando ignorá-la, mas ter ficado mais velho tornava isso quase impossível.
Um dia, estavam indo pra casa, Mitsuko sempre preocupada com seus estudos, com sua saúde. Mas agora ele percebia, nunca tinham falado dela, por quê?
Porque nunca queria falar com ela. Nem sabia onde morava, quem era os pais dela, o que gostava.
E foi isso que perguntou.
- Ah, eu moro um pouco longe. - Ela respondeu meio vaga, mas era clara a felicidade de ele ter puxado conversa consigo. - E meus pais morreram quando eu era pequena, e uns amigos deles me adotaram.
- Sinto muito. - Como podia não saber daquilo?
- E eu gosto de estudar, de flores, borboletas, de anjos...
- Anjos?
- Sim, gosto muito. Eles protegem as pessoas.
- Anjos não existem, Mitsuko.
- Existem, tanto na Terra quanto no Céu. Eu quero ser um deles. - Ela realmente parecia acreditar naquilo. Então deixou passar.
Aos poucos, ele foi conhecendo coisas que, em anos de convivência forçada por parte dele, não sabia. Descobriu que ela ficava uma graça sorrindo. Que seus pés andavam meio fechados, e ela tropeçava muito por isso. Que amava a natureza, principalmente os pássaros, e o seu favorito era o beija-flor.
Descobriu que queria ficar com ela, pra sempre. Por isso, no final da adolescência, a pediu em casamento, e logo ela estava grávida.
Estavam tão contentes, mas um dia, quando Mitsuko estava de oito meses, acenando ao marido que ia trabalhar na empresa do pai, aconteceu um acidente. Um carro enlouquecido por pouco não acerta o carro de Hikaru, mas foi em cheio na jovem adulta.
Levou correndo ao hospital, louco de dor. Não podia perder nenhuma das razões que tinha pra viver!
- Salve-a, onegai (por favor)!
Esperou horas, já havia ligado para os pais, explicando o que aconteceu. Quando o médico saiu, dizendo que só conseguiram salvar seu filho, Hikaru chorou alto, mais que seu próprio filho. Não, os dois choravam juntos, compartilhando a dor da falta que aquela mulher faria.
- O nome dele será Mitsu. - Disse quando finalmente conseguiu segurar o bebê sem que os dois caíssem nos prantos.
Sete anos depois, Hikaru não se casou de novo. Só vivia para trabalhar e para o filho, que era a cara do pai, mas tinha os olhos e os cabelos da mãe, cachos largos e castanhos. Era muito doce, e um pouco mimado, mas não era birrento.
Um dia, Mitsu brincava na escola quando tropeçou e machucou o joelho. Ia abrir o berreiro, mas uma menininha chegou ali e disse:
- Quer que eu coloque água? - O menino assentiu, segurando a dor.
A pequena era parecidíssima com ele, mas era moreninha. Lembrava umas fotos que tinha em casa...
- Nunca te vi aqui, é novata? - Perguntou. Ela apenas sorriu, misteriosa.
- Só estou de passagem.
- Sabe que você é bem parecida com minha mãe?
- Sei... - Ela disse com receio.
- Qual é seu nome?
- Mitsuko.
- É o mesmo nome que o minha mãe! O meu é Mitsu, meu pai colocou em homenagem à ela.
- Ele te trata bem?
- Muito! É o melhor pai do mundo! - Abriu um grande sorriso, que ela respondeu de volta.
- Tenho que ir agora, tchau! - E sumiu num beco. Teve a impressão de ter visto asas nas costas dela, e contou mais tarde quando chegou em casa:
- Pai, eu vi uma menina parecida com a mamãe! Ela tinha asas, não é legal? Será que mamãe virou um anjo, papai? - E Hikaru ouviu o filho com um sorriso nostálgico.
- Sabe, Mitsu-chan, quando sua mãe estava viva, ela me disse que queria ser um anjo. Talvez seja isso. De qualquer modo, vá rezar pelo seu anjo da guarda antes de dormir, tá bom?
- Sim! - O menino saiu correndo para o quarto.
O adulto ainda esperou mais um momento, antes de ir para a janela, onde uma jovem garota morena e com asas o esperava com um sorriso brilhante.
- Estou orgulhosa de você, Hikaru-kun.
- E eu espero a hora que possamos ficar juntos de novo. Você que me mudou, Mitsuko, me aturou mesmo que eu fosse só um garoto mimado...
- Carente de atenção, Hikaru-kun.
- Isso, e é uma das duas razões da minha vida, você sabe.
- Então cuide bem da sua outra razão de viver, nunca desista dela, está bem?
- Sim. Mitsuko, quando eu me for dessa vida...
- Hmm?
- ... Eu quero que você me leve.
- Claro, Hikaru-kun.

Eu queria escrever algo sobre anjos, e saiu isso. Ficou bonitinho, mas também uma porcaria ¬¬ Eu queria fazer uma história sobre anjos caídos, mas não achei algo legal, nem que já não tivesse sido usado. Ou que não fosse grande demais.
Hell.
Bem, daqui parece grande demais, né?
Música que praticamente implorou que eu fizesse uma história: Alluring Secret - Black Vow - Kagamine Rin e Len - Legendado
De qualquer jeito, podia ser pior. Em vez de Mitsuko, eu estava pensando no meu nome, por quê? Procure Sophia Agnotiscismo no Wikipédia e saberá. Não é por eu ser narcisista, com certeza, mas por ter um significado legal. E eu queria o menino tivesse um nome legal, de um demônio, mas não achei. Só Samael, e descobri que ele pode ser tanto do mal quanto bem, e não gostei do significado do nome dele.
Aí virou Hikaru e Mitsuko, o primeiro é Luz e o segundo é Filho / Criança da Luz. Ficaria legal Mitsuko pro menino, mas era nome de menina onde pesquisei, aí ficou Mitsu que é parecido.
Sophia no Kissus! :3

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